2014-06-30

Anestesia sem cirurgia

JOÃO CÉSAR DAS NEVES, DN, 2014.06.24

Antigamente as cirurgias eram feitas a frio, sem adormecer o paciente. Nos estretores da dor muitos morriam da cura. As modernas anestesias tornaram tudo mais sereno e eficaz, mas trouxeram novos problemas. Confundindo alívio com saúde, alguns evitam o tratamento incómodo, morrendo por descuido terapêutico. É isso que se passa na economia internacional.

Quando há 85 anos rebentou a bolha bolsista de 1929, as autoridades deixaram os bancos cair, para os punir das evidentes loucuras de especulação. O resultado foi o colapso da circulação monetária. Falindo os bancos, os depósitos desapareceram; as pessoas sem dinheiro não gastavam, o que arruinou as empresas, deixando muita gente sem emprego e sem dinheiro; isso falia novas empresas, recomeçando a espiral arrasadora. Foi a "grande depressão", maior catástrofe económica da História.

Um impacto tão evidente ensinou a lição. O mundo não só exigiu mais dos bancos centrais, mas criou fundos internacionais para amortecer as dores. Quando em 2008 rebentou nova bolha, as autoridades fizeram com rapidez aquilo que deviam ter feito em 1929. A súbita e vasta injecção de moeda pelos bancos centrais segurou a generalidade do crédito, enquanto programas de ajustamento do FMI e UE apoiavam as economias frágeis. Até em Portugal os custos foram muito inferiores à depressão. Sabemos já a amortecer os terríveis efeitos da explosão de bolhas.

Aí surgiu novo perigo. Desequilíbrios de pagamentos e orçamentos são mero sintoma de dramas mais profundos, pois o problema do mundo não é financeiro mas económico. A anestesia apenas cria uma janela de conforto para realizar a cirurgia drástica que, essa sim, elimina o mal. Quando bancos centrais e autoridades europeias adormecem as dores, fazem o seu dever. Quando os responsáveis nacionais e empresariais usam esse alívio para esquivar medidas duras, matam o doente.

Os exemplos são evidentes. Em Portugal a ajuda da troika evitou o colapso de um défice orçamental de 11,5% do PIB em 2010, após décadas a fingir normalidade. O alívio de três anos permitia medidas indispensáveis, mas o tempo foi passando sem verdadeiras reformas. Apesar da suposta austeridade, esta oportunidade de cura foi realmente desperdiçada. Portugal discutiu, barafustou, inventou desculpas e bloqueu cortes, medidas e programas fazendo muito pouco. O défice de 5,8% em 2013 mostra que ainda não sustentamos o Estado que temos. As taxas de juro da dívida pública estão baixas, mas isso deve--se à anestesia da liquidez mundial, sem revelar verdadeira confiança dos mercados. Assim se caminha alegremente para uma catástrofe muito maior do que a evitada há três anos.

O que se diz do Estado pode afirmar-se da banca. Repletas de dinheiro barato emitido pelos bancos centrais, as instituições de crédito europeias sobrevivem sem dificuldades, apesar dos erros que acumularam nos anos de facilidade. Mas poucas aproveitam a folga para colmatar os buracos e limpar o lixo do balanço. Limitam--se a rodar créditos incobráveis, alimentando empresas fantasmas que fingem sobreviver. O doente está ligado à máquina mas sem tratamento e sem realmente recuperar.

Quando no fim de 2008 os bancos centrais encharcaram as economias com liquidez, pensavam tratar-se de um expediente de alguns meses, simples ajuda para permitir o ajuste das economias sem cair em ruínas. Passados quase seis anos, o dinheiro não só não saiu mas continua a jorrar a taxas alucinantes. A terrível doença, a desconfiança, permanece e até se agravou. A ajuda temporária perpetua-se e pode transformar-se na pior das armadilhas. A culpa não é das autoridades monetárias, meros anestesistas, mas nas reformas evitadas, ilusões cómodas, sobretudo na suspeita geral que todos alimentam, sem perceber que serram o tronco onde se sentam.

Nunca a economia viveu tanto tempo alagada em tanta liquidez. Sob a inundação endémica surgem novos sintomas, deformidades e maleitas que ninguém conhece. Assim se vai comodamente preparando a desgraça que enfrentaremos daqui a uns tempos.

2014-06-03

Defesa de Doutoramento

Aproxima-se a minha defesa de Tese... é já na terça-feira, dia 17 de Junho de 2014, às 10:00 no Anfiteatro PA-3 (Piso -1 do Pavilhão de Matemática) do IST.

Descoberta de dados RFID de forma escalável e segura

Os sistemas ERP (Enterprise Resources Planning) e SCM (Supply Chain Management) trouxeram grandes melhorias ao funcionamento das cadeias de fornecimento. Para continuar a melhorar é necessária uma maior ligação entre os mundos virtual e físico. Aqui, as tecnologias de identificação automática por rádio-frequência (RFID), permitem que dados de identificação de objectos físicos etiquetados possam ser recolhidos continuamente por leitores instalados em localizações relevantes (fábricas, armazéns, centros de distribuição, etc). Os dados são guardados e geridos por sistemas de rastreabilidade que permitem dar resposta a interrogações, tais como Localizar e Rastrear.

Um sistema de rastreabilidade prático deve tratar os problemas da escalabilidade e da visibilidade dos dados. O sistema deve ter um desempenho adequado ao número de objectos físicos que circulam na cadeia de fornecimento; e deve proteger os dados de negócio de acessos não autorizados.

As contribuições originais desta dissertação são as ferramentas de avaliação quantitativa, que permitem a comparação de sistemas de rastreabilidade para diversos cenários de cadeias de fornecimento; e uma linguagem de autorização que pode ser usada para definir e aplicar políticas de restrição da visibilidade de dados. Os resultados são ilustrados com exemplos de várias indústrias e com um caso de estudo da indústria Farmacêutica.

--

Scalable and secure RFID data discovery

The combined use of Enterprise Resources Planning (ERP) and Supply Chain Management (SCM) systems has greatly improved the efficiency of supply chains. Further improvements require a deeper connection between the virtual and physical worlds. Automatic Identification technologies, like radio-frequency identification (RFID), allow identification data about tagged physical objects to be collected continuously by readers deployed across locations in the supply chain. This data is stored and managed using traceability systems to allow efficient answers to traceability queries, like Track and Trace.

A practical traceability system should address both the scale and data visibility problems. The system should perform adequately for the number of physical objects flowing in the supply chain; and it should protect the sensitive business data from unauthorized access.

The original contributions of this dissertation are a quantitative assessment framework, called TrakChain, that compares traceability systems for given supply chain scenarios; and a supply chain authorization language that can be used to define and enforce data visibility restriction policies. The results are illustrated with examples from several industries and a case study in the Pharmaceutical supply chain.