2012-05-03

O destino construtivo do trabalho humano

Luigi Giussani, Editorial da Tracce. Fevereiro de 1999

Tentemos imaginar uma cidade medieval. Não importa se é pequena ou grande, rica ou mais modesta. Uma Catedral sobressai, um templo, sinal da proximidade entre Deus e o homem.

A Catedral é o resultado do trabalho de todo o povo. Não apenas dos arquitectos que a planearam, dos artistas que a embelezaram, dos escultores que a decoraram ou dos pedreiros que lhe levantaram as paredes.

Mesmo o tecelão numa oficina distante ou a mãe que lava a roupa do seu homem compreendiam, ainda que vagamente, que o seu trabalho estava contido naquele sinal; que o sinal os questionava e lhes abria um horizonte mais vasto do que o resultado imediato. A Catedral era o sinal do trabalho do povo, de toda a gente, que proclamava, na história do homem, a glória de Jesus de Nazaré.

O povo daquela cidade medieval, tecendo uma sociedade que salpicou a Europa de catedrais, fez o seu trabalho; desde o arquitecto ao tecelão; desde aqueles que tinham uma fé escaldante até aqueles cuja fé era mais frágil. Semeando aqueles sinais da presença de Deus, que é tudo em todos, aquela gente testemunhou a presença divina na história como um factor de unidade, de crescimento e de verdadeira previdência para a sociedade.

Deste modo “ajudavam” Deus, o “trabalhador eterno”, no seu trabalho misericordioso de construir e sustentar a esperança humana.

A natureza de um povo pode ser compreendida pelo seu trabalho, pelo valor que ele atribui ao seu trabalho. Porque o significado do mundo é afirmado ou negado, não tanto com palavras, mas pela oferta do nosso trabalho diário, pelo sacrifício feito para o trabalho de um Outro. Isto acontece com o empenho de cada um naquele bocado de realidade que as circunstâncias lhe propõem cada dia, para as manipular e transformar, pedindo sempre para ser cooperador com Cristo, partilhando com Ele a vontade do Pai que está no Céu. Construir catedrais - de pedra ou de gente - é o maior desafio para um Cristão, como proclama o grande T. S. Elliot na dramática perspectiva que afirma a alternativa entre o bem e o mal ou a violência:

“E se o Templo é para ser destruído, primeiro, temos que o construir”.

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