Eles acham que são os donos do país. Portugal é deles. O Estado pertence-lhes. Vale tudo. Estão acima da lei e das deontologias. Não conhecem ética em política, nem educação. Não sabem o que é o Estado de direito.
São filhos directos de Maquiavel porque agem sempre como se os fins justificassem os meios. Sentem-se príncipes que desconhecem o Estado de direito porque são os donos absolutos do país. Usam a propaganda como ninguém. Alimentam-se dela. Sabem de cor como inventar cenários, como criar factos que desviem do essencial, como dar a parecer o que não é.
Mentem por palavras, actos e omissões.... Omitem números se não lhes interessam, guardam-nos e escondem-nos para apresentar boas execuções orçamentais. Mudam critérios para contar desempregados, como quem apaga pessoas. As pessoas são números. Afirmam meias- verdades para não serem apanhados na totalidade da mentira e não parecerem mentir tanto quando são apanhados em flagrante.
Levam, sem vergonha, figurantes para comícios eleitorais com bilhetes para oceanários, ou a troco de pequenas excursões, de uma viagem e de um lanche. Valem-se de tudo o que pode ser útil para o objectivo que desejam. Fica bem multiculturalismo? Pois fazem o gesto obsceno de arrebatar para imagem filmada de comício emigrantes paquistaneses ilegais, ou indianos, ou africanos. Levam-nos para exibir publicamente e mostrarem ao país as diferentes cores da pele e põem gente pobre e desprotegida a fazer o triste papel de figurantes televisivos e marcar o dia. Nem notam que são autores de um brutal acto de racismo que faz corar de vergonha qualquer pessoa digna.
Exibem o despudor de usar serviços públicos na campanha como se fossem seus espaços privados e as pessoas que estão em aulas em serviços públicos são exibidas como troféus de campanha e interrogadas por meios de Comunicação Social para se mostrarem agradecidas, reconhecidas e obrigadas. Já não mostram obra feita, mostram pessoas que constrangem em serviços públicos como obra feita.
Revelam pouca memória pois não se lembram das cenas célebres de filmagem de uma criança dando-lhes flores, tantas vezes vistas em outros tristes cenários. Põem mesmo a criança a dizer: "Obrigado pelos Magalhães". Que memórias nos traz aquela imagem e quantas vezes e em que circunstância já foram realizadas.
Levantam sustos e medos contra quem se lhes opõe. Levaram o drama a muitas casas de portugueses quando distribuíram o que não tinham para ganhar as eleições, que ganharam, fazendo depois uma razia de pobreza com milhares de portugueses a perderem o emprego, muitos com mais de 50 anos e sem esperança de voltarem a trabalhar, com os dias contados para receberem o subsídio. A caminharem para o desespero, tiraram-lhes o futuro.
Mas não desistem. É a sua sobrevivência política pessoal. Prometem mundos e fundos com as mãos-cheias de nada. E escondem, escamoteiam a realidade e a verdade, que são valores para eles secundários para tanta ambição. A verdade aparece como uma palavra erradicada da política. A verdade é subjectiva e adaptam-na aos seus interesses de campanha. Interessa, sim, a mensagem a "vender" cada dia aos portugueses.
Escondem o fundamental. Até há dois dias, escondiam o acordo com a troika que nos vai condicionar o dia-a-dia e o futuro imediato. Vai condicionar-nos no dia a seguir às eleições. Evitaram discutir o assunto, fingiram que não existia. Asseguravam que agora, ocupados com as feiras e romarias e com votos, não tinham tempo para estudar o assunto. Não sabiam prazos, nem compromisso. Desconheciam que tinham de baixar a Taxa Social Única. Nem faziam ideia como iam financiar os compromissos. A crise não era com eles. É com as troikas, os alemães e o FMI. Eles estão calmos porque tratarão de nós quando a campanha passar.
Era estranho que não quisessem discutir o que em nome de Portugal assinaram. Era estranho que não houvesse tradução oficial do documento assinado e entregue aos partidos da Oposição. Agora, descobre-se que o documento entregue aos partidos não é igual ao outro. Pequenos pormenores. Minudências. Umas pequenas alterações de prazos, da legislação laboral, por exemplo. Que importância tem isso?, são meros pormenores, dizem. Resultam talvez apenas da dificuldade em traduzir o inglês técnico, certamente. Importante para eles são os votos, são uns bombos na campanha para animar o povo, dirão. É só fazer de conta mais uns dias, uma curta semana e eles, os portugueses, verão, então, fora do ruído da campanha, o que os espera e confrontam-se com a realidade já sem retorno.
Não são de Esquerda, nem socialistas, nem liberais, nem sociais-democratas, são, na feliz expressão do último líder socialista António Guterres, simplesmente "boys".
Mas vai dar muito trabalho ao PSD e a Pedro Passos Coelho fazer regressar à política a nobreza de quem quer apenas que esta volte a ser um mero serviço do bem comum e que a esperança regresse a Portugal.
2011-05-29
Os "boys"
Zita Seabra, JN 2011-05-29
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