2013-10-30

Regras do Futebol de Rua

Isto era mesmo assim :)

REGRAS de FUTEBOL de RUA

1º - O gordo é sempre o Guarda-redes ...
2º - O jogo termina quando todos estão cansados
3º - Embora o jogo esteja 20 a 0, “quem marcar, ganha!!”
4º - Não há árbitro
5º - Só se marca falta se for muito claro, ou se sair alguém a chorar
6º - Não há fora-de-jogo
7º - Se o dono da bola se chateia…acaba o jogo
8º - Os melhores jogadores não podem jogar na mesma equipa e são eles que escolhem o resto da equipa
9º - Ser o último a ser escolhido é a maior humilhação
10º - Nos livres directos, a barreira vai estar sempre perto da bola
11º - A partida tem uma pausa quando passa um adulto ou uma senhora com um bebé
12º - A partida para quando a bola entra pelo vidro de alguma casa, café, carro… ou quando passa um camião, autocarro ou carro. Se for motas ou bicicletas… segue o jogo
13º - São inimigos eternos os jogadores do bairro mais perto
14º - Os que não sabem dar um pontapé na bola, são suplentes ou quanto muito… defesas
15º - Se chegam os mais velhos, temos que sair do campo, mas não, sem protestar primeiro
16º - Há sempre um vizinho que não te deixa jogar ou que ameaça que te fica com a bola
17º - Se se aposta alguma coisa, jogamos como se fosse uma final
18º - As balizas são duas pedras, ou latas, mas vai haver sempre uma equipa que tem a baliza mais pequena
19º - Quando uma equipa marcar um golo de chapéu, a equipa adversária vai gritar sempre “FORA”( para que o golo não seja validado)
20º - Os foras são marcados com o pé e é possível atirar contra um adversário e seguir a jogada(foras “à cigano”)
21º - Num penalty, o gordo sai sempre da baliza e quem defende é o melhor jogador

2013-10-19

Sacrifícios do público vs privado

O orçamento, os mitos e a realidade

Alexandre Homem Cristo

ionline 14 Out 2013

O respeito pela lei fundamental não é tão determinado pela Constituição como o é pelo moralismo da esquerda.

Por norma, debater as medidas orçamentais antes destas serem conhecidas é uma perda de tempo. Mas isso não impede o envenenamento da opinião pública ou o surgimento de mitos. E porque pela boca do primeiro-ministro já sabemos que haverá neste OE2014 medidas destinadas aos funcionários públicos, assim como um corte nas subvenções dos antigos políticos, é oportuno esclarecer desde já dois mitos que, provavelmente, irão ocupar parte do debate público nas próximas semanas: primeiro, o de que os funcionários públicos e os pensionistas têm sido os mais castigados pela crise; segundo, o de que a inconstitucionalidade das medidas é evidente.

1. Os funcionários públicos sofreram, em 2010 e desde então, um corte salarial de 5% e, em 2012, perderam os seus subsídios (o que não se repetiu em 2013). Por seu lado, os pensionistas viram-se igualmente sem os seus subsídios, em 2012, tendo havido ainda a introdução da contribuição de solidariedade, que se abateu sobre cerca de 10% dos actuais pensionistas. Nada disto é pouco e, naturalmente, todas estas medidas tiveram um impacto significativo na vida destes portugueses. Mas, não sendo pouco, é indiscutivelmente menos do que os sacrifícios que têm recaído sobre os trabalhadores do sector privado.
No privado, estima-se que mais de metade dos trabalhadores (55%) tenha sofrido um corte salarial de cerca de 11%. Além disso, são milhares os negócios e as empresas que, entretanto, faliram e, consequentemente, são milhares os novos desempregados desde que a troika aterrou em Portugal - mais de 211 mil pessoas, quase todas oriundas do sector privado. Ou seja, onde os funcionários públicos perderam nos salários e subsídios, os trabalhadores do privado perderam nos salários ou no emprego - a instabilidade laboral mantém-se um exclusivo dos privados. Convenhamos que a deles é uma situação pior.

2. Os mais ingénuos considerarão que a inconstitucionalidade de uma medida se define em função do texto da Constituição, como se de uma análise científica se tratasse. Não é bem assim. Ela define-se em função de uma interpretação da Constituição - uma interpretação política e, frequentemente, moralista. Nenhum caso o evidencia melhor do que o anúncio dos cortes nas subvenções dos políticos. Fala-se de um corte de 15% ou, até, de um corte de 100%, o que seria a suspensão de um direito adquirido desses antigos políticos. Pela recente bitola do Tribunal Constitucional, seria desde logo uma violação do princípio da confiança. No entanto, a esquerda, que sempre se insurge contra o corte nos direitos adquiridos e se afirma como protectora da Constituição, já anunciou a sua concordância. Afinal, parece que a inconstitucionalidade de uma lei não é nada evidente e que depende do seu beneficiário. O respeito pela lei fundamental não é tão determinado pela Constituição como o é pelo moralismo da esquerda.

Estes dois pontos não visam justificar tudo ou legitimar todo o tipo de medidas. Visam sublinhar o óbvio: enquanto alimentarmos mitos, ficaremos incapazes de pensar a realidade. Ultrapassemos, pois, os mitos que dominam o debate público e aproveitemos a oportunidade de, a partir de amanhã, melhorar o OE2014.

2013-10-05

Saudades de uma pátria

JOÃO MIGUEL TAVARES
Jornalista jmtavares@outlook.com

Público, 03/10/2013

Quando eu era criança e comecei a ter aulas de História, nenhuma personagem me fascinou tanto quanto Egas Moniz, aio de D. Afonso Henriques, que salvou o futuro rei no cerco de Guimarães ao prometer vassalagem a Afonso VII. Quando anos mais tarde o fogoso Afonso Henriques rompeu tal promessa, pondo em causa a palavra de Egas Moniz, diz a lenda que este colocou um baraço ao pescoço e foi entregar-se, com mulher e filhos, ao rei de Leão e Castela, para que ele dispusesse das suas vidas como entendesse. Camões cantou-o nos Lusíadas: "E com seus filhos e mulher se parte/ A alevantar co" eles a fiança,/ Descalços e despidos, de tal arte/ Que mais se move a piedade que a vingança." Segundo a mitologia, Afonso VII, impressionado com a grandeza de tal gesto, acabaria por poupar-lhe a vida: "Mas o rei, vendo a estranha lealdade,/ Mais pôde, enfim, que a ira, a piedade."

Se muito me tenho lembrado de Egas Moniz nos últimos tempos é porque esta mistura de patriotismo e respeito pela palavra dada se tornou tão tristementedémodé, numa altura em que era fundamental que estivesse viva e actuante. Apenas Paulo Portas se atreve a sugerir, nas suas intervenções, que há uma dimensão patriótica na luta que o país está a travar para sair da situação de resgate em que se encontra. Infelizmente, todos os outros partidos fogem deste género de formulação como o diabo da cruz, com medo do espectro do Estado Novo. Tanta carta da PIDE foi concluída com o terrível "a bem da nação" que hoje em dia falar do bem, da honra ou dos interesses da nação, como um todo, é uma espécie de actividade radical, a que poucos políticos se atrevem. O patriotismo em Portugal está reservado para os jogos de futebol. Sem calções e uma bola nos pés, é melhor nem falar nisso.

Ora, o problema de ainda identificarmos em 2013 o conceito de nação com a ditadura do Estado Novo é estarmos impedidos de deitar mão a uma retórica patriótica quando mais precisávamos dela, enquanto instrumento de motivação do país nesta crise tremenda e como forma de convocar as suas forças para sair do buraco em que estamos enfiados. Como fazê-lo sem parecer ridículo ou ser acusado de facho? Eis o enorme desafio. É que a pátria existe, está cá, não foi a lado nenhum, e todos nós nos sentimos portugueses. Mas como conceito politicamente operativo, quase ninguém parece ter coragem para afirmar aquilo que importa: o país deveria estar unido numa missão patriótica que lhe permitisse recuperar a sua plena independência. A corda já está no nosso pescoço, mas em vez de nós termos coragem para assumir as nossas dívidas e enfrentar os nossos devedores, e "alevantar co" eles a fiança", preferimos antes continuar a estrebuchar à medida que o nó vai apertando.

Quando eu ouço dizer que afinal não queremos 4% mas 4,5% de défice, quebrando promessas e ignorando todas as renegociações que já houve; quando ouço que afinal nem sequer queremos 4,5% mas antes 5%, esquecendo que o rolar da dívida só agrava o futuro; quando ouço que afinal temos é de pensar na saída do euro, implodindo todo o esforço dos últimos 35 anos para sermos um verdadeiro país europeu; quando ouço tudo isto, só me resta ter saudades de Egas Moniz e de quem colocava os interesses da pátria à frente dos seus e a palavra à frente da vida. Acreditem: eu detesto saloiices patrióticas. Mas pertenço a um país e a uma cultura, e esta atitude de pedinchice na era pós-Vítor Gaspar deixa-me profundamente envergonhado.

2013-10-03

Anjos da Guarda

Os Anjos são antes de tudo os mediadores das mensagens da verdade Divina, iluminam o espírito com a luz interior da palavra. São também guardiões das almas dos homens, sugerindo-lhes as directivas Divinas; invisíveis testemunhas dos seus pensamentos mais escondidos e das suas acções boas ou más, claras ou ocultas, assistem os homens para o bem e para a salvação. São Grégorio Magno diz, que quase cada página da Revelação escrita, atesta a existência dos Anjos. No Novo Testamento aparecem no Evangelho da infância, na narração das tentações do deserto e da consolação de Cristo no Getsemani. São testemunhas da Ressurreição, assistem a Igreja que nasce, ajudam os Apóstolos e transmitem a vontade Divina. Os Anjos preparam o juízo final e executarão a sentença, separando os bons dos maus e formarão uma coroa ao Cristo triunfante. Eles os Anjos,são mencionados mais de trezentas vezes no Antigo Testamento. Além de todas essas referências bíblicas, que por si só justificam o culto especial que os cristãos reservam aos anjos desde os primeiros tempos, é a natureza destes "espíritos puros" que estimula nossa admiração e nossa devoção.

Dizia Bozzuet : "Os Anjos oferecem a Deus as nossas esmolas, recolhem até os nossos desejos, fazem valer diante de Deus os nossos pensamentos... Sejamos felizes de ter amigos tão prestativos, intercessores tão fiéis, intérpretes tão caridosos." Fundamentando a verdade de fé, a Igreja nos diz que cada cristão, desde o momento do baptismo, é confiado ao seu próprio Anjo, que tem a incumbência de guardá-lo, guiá-lo no caminho do bem, inspirando bons sentimentos, proporcionando a livre escolha que tem como meta Deus, Supremo Bem. A liturgia do dia 29 de setembro, que celebramos São Miguel, São Gabriel e São Rafael, lembra ao mesmo tempo todos os coros angélicos: os Anjos, os arcanjos, os Tronos, as Dominações que adoram, as Potestades que tremem de respeito diante da Majestade Divina, os céus, as virtudes, os bem-aventurados serafins e os querubins.

O Inicio da celebração da festa distinta para os Santos Anjos da Guarda, começou desde o século XVI, universalizada pelo Papa Paulo V, depois que em 1508 Leão X aprovou o novo Ofício composto pelo franciscano João Colombi.

Oração ao Anjo da Guarda:

Santo Anjo do Senhor, Meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade Divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina. Amén.

via Povo

Carta a quem não crê

PAPA FRANCISCO

Prezado Dr. Scalfari,

Com viva cordialidade queria, através desta, procurar, ainda que apenas em linhas gerais, responder à carta que houve por bem dirigir-me, nas páginas do jornal La Repubblica de 7 de Julho, com uma série de reflexões pessoais, que haveria de desenvolver nas páginas do mesmo jornal do dia 7 de Agosto. Começo por lhe agradecer a solicitude que teve em ler a Encíclica Lumen fidei. De facto, esta – na intenção do meu amado Predecessor, Bento XVI, que a idealizou e em grande parte redigiu e de quem a herdei com imensa gratidão – tem em vista não só confirmar na fé em Jesus Cristo aqueles que nela já que se reconhecem, mas também suscitar um diálogo sincero e rigoroso com quem, como o senhor, se define «um não-crentehá muitos anos interessado e fascinado pela pregação de Jesus de Nazaré».
Parece-me, pois, muito positivo, tanto para nós individualmente como para a sociedade em que vivemos, determo-nos a dialogar sobre uma realidade tão importante como é a fé, que faz apelo à pregação e à figura de Jesus.
Em particular, penso que há hoje duas circunstâncias que tornam obrigatório e precioso este diálogo. Aliás o mesmo constitui – como se sabe – um dos objectivos principais do Concílio Vaticano II, querido por João XXIII, e do ministério dos Papas, que desde então até aos nossos dias – cada um com a própria sensibilidade e contribuição – têm caminhado pelo sulco traçado pelo referido Concílio.

A primeira circunstância – como lembram as páginas iniciais da Encíclica – decorre do facto de, ao longo dos séculos da modernidade, se ter assistido a um paradoxo: a fé cristã, cuja novidade e incidência na vida do homem foram expressas, desde o início, precisamente através do símbolo da luz, tem sido muitas vezes rotulada como a obscuridade da superstição, que se opõe à luz da razão. E assim se chegou à incomunicabilidade entre a Igreja e a cultura de inspiração cristã, por um lado, e a cultura moderna de traça iluminista, por outro. Chegou o tempo – o próprio Vaticano II inaugurou a estação – de um diálogo aberto e sem preconceitos,
que reabra as portas para um encontro sério e fecundo.

A segunda circunstância, para quem procura ser fiel ao dom de seguir Jesus na luz da fé, decorre do facto de este diálogo não constituir um acessório secundário da existência do crente; antes, pelo contrário, é sua expressão íntima e indispensável. A este respeito, deixe-me citar-lhe uma declaração, na minha opinião muito importante, da Encíclica: dado que a verdade testemunhada pela fé é a do amor – como lá se sublinha – «resulta claramente que a fé não é intransigente, mas cresce na convivência que respeita o outro. O crente não é arrogante; pelo contrário, a verdade torna-o humilde, sabendo que, mais do que possuirmo-la nós, é ela que nos abraça e possui. Longe de nos endurecer, a segurança da fé põe-nos a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos» (n. 34). Este é o espírito que me anima nas palavras que lhe escrevo.
A fé, para mim, nasceu do encontro com Jesus: um encontro pessoal, que tocou o meu coração e deu uma direcção e um sentido novo à minha existência; mas, ao mesmo tempo, um encontro que se tornou possível pela comunidade de fé em que vivi e graças à qual encontrei o acesso ao entendimento da Sagrada Escritura, à vida nova que flui, como jorros de água, de Jesus através dos sacramentos, à fraternidade com todos e ao serviço dos pobres, verdadeira imagem do Senhor.
Sem a Igreja – creia-me! –, eu não teria podido encontrar Jesus, embora ciente de que este dom imenso da fé está guardado em frágeis vasos de barro que é a nossa humanidade. Ora, é precisamente a partir desta experiência pessoal de fé vivida na Igreja que me sinto à vontade para perscrutar as suas perguntas e procurar, juntamente com o senhor, as estradas ao longo das quais possamos talvez começar a fazer um pedaço de caminho juntos.

Desculpe, se não sigo passo a passo as argumentações que propôs no editorial de 7 de Julho. Parece-me mais frutuoso – ou pelo menos está mais de acordo com o meu génio – ir de certo modo ao coração das suas considerações. Não entro sequer na modalidade de exposição que segue a Encíclica e na qual o senhor entrevê a falta duma secção dedicada especificamente à experiência histórica de Jesus de Nazaré.
Para começar, limito-me a observar que uma tal análise não é secundária. Trata-se efectivamente – seguindo aliás a lógica que guia o desenrolar da Encíclica – de deter a atenção sobre o significado daquilo que Jesus disse e fez e assim, em última instância, sobre aquilo que Jesus foi e é para nós. De facto, as Cartas de Paulo e o Evangelho de João, especialmente referidos na Encíclica, estão construídos sobre o sólido fundamento do ministério messiânico de Jesus de Nazaré, cuja resolução chega ao seu auge na páscoa de morte e ressurreição.
Por isso, é preciso confrontar-se com Jesus – diria – na dimensão concreta e tosca da sua história, tal como nos é narrada sobretudo pelo mais antigo dos Evangelhos, o de Marcos. Aí se constata que o «escândalo», que as palavras e a actividade de Jesus provocam ao seu redor, deriva da sua extraordinária «autoridade» – termo este, atestado já desde o Evangelho de Marcos mas que não é fácil de traduzir em italiano. A palavra grega é exousia, que literalmente se refere àquilo que «provém do ser» que se é. Trata-se portanto, não de algo exterior
ou forçado, mas de algo que brota de dentro e se impõe por si mesmo. Realmente Jesus impressiona, desinstala, reforma a partir – Ele mesmo o disse – da sua relação com Deus, que trata familiarmente por Abbá, o qual Lhe confere esta «autoridade» para que Ele a aplique a favor dos homens.

Assim, Jesus prega «como alguém que tem autoridade», cura, chama os discípulos para O seguirem, perdoa… Todas estas coisas, no Antigo Testamento, são prerrogativa de Deus, e só Deus. A pergunta, que mais vezes reaparece no Evangelho de Marcos – «Quem é este que… ?» – e que diz respeito à identidade de Jesus, nasce da constatação de uma autoridade diferente da do mundo, uma autoridade que não tem como finalidade exercer um poder sobre os outros mas servi-los, dar-lhes
liberdade e plenitude de vida. E isto até ao ponto de arriscar a sua própria vida, até experimentar a incompreensão, a traição, a rejeição, até ser condenado à morte, até cair no estado de abandono na cruz.
Mas Jesus permanece fiel a Deus até ao fim.
E é precisamente então – como exclama o centurião romano ao pé da cruz, no Evangelho de Marcos – que, paradoxalmente, Jesus Se mostra como o Filho de Deus! Filho de um Deus que é amor e que quer, com todo o seu ser, que o homem, todo o homem, se descubra e viva, também ele, como seu verdadeiro filho. Para a fé cristã, isto é certificado pelo facto de que Jesus ressuscitou: não para triunfar sobre aqueles que O rejeitaram, mas para atestar que o amor de Deus é mais forte do que a morte, o perdão de Deus é mais forte do que todo o pecado, e que vale a pena gastar a própria vida, até ao fim, para testemunhar este dom imenso.

A fé cristã acredita nisto: Jesus é o Filho de Deus que veio dar a sua vida para abrir a todos o caminho do amor. Por isso, ilustre Dr. Scalfari, tem razão quando vê, na encarnação do Filho de Deus, o perno da fé cristã. Já Tertuliano escrevia: «caro cardo salutis – a carne [de Cristo] é o perno da salvação». É que a encarnação, ou seja, o facto de o Filho de Deus ter tomado a nossa carne e compartilhado alegrias e sofrimentos, vitórias e derrotas da nossa existência até ao grito da cruz, vivendo tudo no amor e na fidelidade ao Abbá, testemunha o amor incrível que Deus tem por cada homem, o valor inestimável que lhe reconhece.
Por isso, cada um de nós é chamado a assumir o olhar e a opção de amor de Jesus, a entrar no seu modo de ser, pensar e agir. Esta é a fé, com todas as suas expressões que são descritas concretamente na Encíclica.
Além disso, no mesmo editorial de 7 de Julho, o senhor pergunta-me como entender esta originalidade da fé cristã, assente precisamente na encarnação do Filho de Deus, face a outras crenças que por sua vez gravitam em torno da transcendência absoluta de Deus.

Eu diria que a sua originalidade está precisamente no facto de que a fé nos faz participar, em Jesus, na relação que Ele mesmo tem com Deus que é Abbá e, nesta luz, participar na relação que Ele tem com todos os outros homens, incluindo os inimigos, sob o signo do amor. Por outras palavras, a filiação de Jesus, como no-la apresenta a fé cristã, não é revelada para marcar uma separação intransponível entre Jesus e todos os outros, mas para nos dizer que, n’Ele, todos somos chamados a ser filhos do único Pai e irmãos entre nós. A singularidade de Jesus visa a comunicação, não a exclusão.

Claro, daqui segue-se também – e não é pouco – a distinção entre a esfera religiosa e a esfera política, que está sancionada no «dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”, afirmada com nitidez por Jesus e sobre a qual, laboriosamente, se construiu a história do Ocidente. De facto, a Igreja é chamada a semear o fermento e o sal do Evangelho, ou seja, o amor e a misericórdia de Deus que envolvem todos os homens, apontando para a meta escatológica e definitiva do nosso destino, enquanto à sociedade civil e política cabe a árdua tarefa de articular e encarnar na justiça e na solidariedade, no direito e na paz, uma vida cada vez mais humana.
Para quem vive a fé cristã, isto não significa fuga do mundo nem vontade de qualquer hegemonia, mas serviço ao homem, ao homem todo e a todos os homens, a partir das periferias da história e mantendo desperto o sentido da esperança que impele a realizar o bem em todas as circunstâncias e com o olhar sempre fixo no além.

Na conclusão de seu primeiro artigo, o senhor pergunta-me ainda o que dizer aos irmãos judeus sobre a promessa que Deus lhes fez: terá ela caído completamente no vazio? Trata-se de uma questão – pode crer – que nos interpela radicalmente como cristãos, porque, com a ajuda de Deus, sobretudo a partir do Concílio Vaticano II re-descobrimos que o povo judeu continua a ser, para nós, a raiz santa donde germinou Jesus. Na amizade que cultivei durante todos estes anos com os irmãos judeus,
na Argentina, também eu muitas vezes questionei a Deus na oração, especialmente quando a mente se detinha na recordação da experiência terrível do Holocausto. O que lhe posso dizer – com palavras do apóstolo Paulo – é que nunca esmoreceu a fidelidade de Deus à aliança estabelecida com Israel e que, através das terríveis provações destes séculos, os judeus conservaram a sua fé em Deus. E nunca lhes agradeceremos suficientemente por isso, não só como Igreja, mas também como humanidade. Além disso, perseverando eles precisamente na sua fé no Deus da aliança, lembram a todos, inclusive a nós cristãos, o facto de que permanecemos,
como peregrinos, à espera do regresso do Senhor e, por conseguinte, devemos manter-nos sempre abertos a Ele, sem nos fecharmos jamais no que já conseguimos.

E assim chego às três perguntas que me coloca no artigo de 7 de Agosto. Parece-me que, nas duas primeiras, aquilo que lhe está a peito é entender a atitude da Igreja com quem não partilha a fé em Jesus. Antes de mais nada, pergunta-me se o Deus dos cristãos perdoa a quem não acredita nem procura acreditar. Admitido como dado fundamental que a misericórdia de Deus não tem limites quando alguém se Lhe dirige com coração sincero e contrito, para quem não crê em Deus a questão
está em obedecer à própria consciência: acontece o pecado, mesmo para aqueles que não têm fé, quando se vai contra a consciência. De facto, ouvir e obedecer a esta significa decidir-se diante do que é percebido como bem ou como mal; e é sobre esta decisão que se joga a bondade ou a maldade das nossas acções.

Em segundo lugar, o senhor pergunta-me se é um erro ou um pecado pensar que não existe nada absoluto e, consequentemente, também não há uma verdade absoluta mas apenas uma série de verdades relativas e subjectivas. Para começar, eu não falaria – nem mesmo para aqueles que acreditam – de verdade «absoluta» dando ao termo absoluto o sentido daquilo que está desligado, que carece de qualquer relação, porque a verdade, segundo a fé cristã, é o amor de Deus por nós em Jesus Cristo.
Portanto, a verdade é uma relação! E tanto é assim, que cada um de nós capta a verdade e exprime-a a partir de si mesmo: da sua história e cultura, da
situação em que vive, etc. Isto não quer dizer que a verdade seja variável e subjectiva. Longe disso! Significa, sim, que ela se nos dá sempre e só como um
caminho e uma vida. Porventura não disse o próprio Jesus: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida»? Por outras palavras, sendo a verdade, em última análise, uma só coisa com o amor, requer a humildade e a abertura para ser buscada, acolhida e expressa.

Concluindo, é preciso entendermo-nos bem sobre os termos e, para sair dos estrangulamentos duma contraposição… absoluta, talvez seja necessário reformular em profundidade a questão. Penso que isto seja hoje absolutamente necessário para se estabelecer aquele diálogo sereno e construtivo que eu almejava ao início deste meu texto. Na última questão, pergunta-me se, com o desaparecimento do homem da terra, desaparecerá também o pensamento capaz de pensar Deus. É certo que a grandeza do homem está em ser capaz de pensar Deus, isto é, em poder viver uma relação consciente e responsável com Ele. Mas, a relação é entre duas realidades. Deus – tal é o meu pensamento e a minha experiência, mas são muitos os que, ontem e hoje, os compartilham! – não é uma ideia, ainda que muito elevada, fruto do pensamento do homem; Deus é realidade com o «R» maiúsculo. Jesus no-Lo revela – e vive em relação com Ele – como um Pai de bondade e misericórdia infinitas. Por isso, Deus não depende do nosso pensamento. Aliás, mesmo quando acabar a vida do homem sobre a terra – e, segundo a fé cristã, este mundo tal como o conhecemos está destinado em todo o caso a perecer –, não deixará de existir o homem; e com ele, de um modo que ignoramos, o próprio universo também não. A Escritura fala de «um novo céu e uma nova terra» e afirma que, no final – num onde e quando que nos ultrapassam mas para os quais, na fé, tendemos com desejo e expectativa – Deus será «tudo em todos».

E assim concluo, ilustre Dr. Scalfari, estas minhas reflexões, suscitadas por tudo o que me quis comunicar e perguntar. Receba-as como uma tentativa de resposta, provisória mas sincera e confiante, ao convite que vislumbrei para fazermos um pedaço de estrada juntos. A Igreja – creia-me! – apesar de todas as lentidões, infidelidades, erros e pecados que possa ter cometido e pode ainda cometer nos que a compõem, não tem outro sentido e finalidade que não seja viver e testemunhar
Jesus: Ele, que foi enviado pelo Abbá para «anunciar a Boa-Nova aos pobres, proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista, mandar em liberdade os oprimidos, proclamar um ano favorável da parte do Senhor» (Lc 4,18-19).

Com fraterna amizade,

Franciscus PP.

via Tuba do Cabo

2013-09-30

A fé é um encontro

A fé, para mim, nasceu do encontro com Jesus: um encontro pessoal, que tocou o meu coração e deu uma direcção e um sentido novo à minha existência; mas, ao mesmo tempo, um encontro que se tornou possível pela comunidade de fé em que vivi e graças à qual encontrei o acesso ao entendimento da Sagrada Escritura, à vida nova que flui, como jorros de água, de Jesus através dos sacramentos, à fraternidade com todos e ao serviço dos pobres, verdadeira imagem do Senhor. Sem a Igreja – creia-me! –, eu não teria podido encontrar Jesus, embora ciente de que este dom imenso da fé está guardado em frágeis vasos de barro que é a nossa humanidade.

-- Papa Francisco

CARTA DO PAPA FRANCISCO AO DIRECTOR DO JORNAL ITALIANO «LA REPUBBLICA» DOTT. EUGENIO SCALFARI

2013-09-25

"E sei que só avança e segue aquele que se ajoelha, que chama e pede sem perder a esperança!"

-- Simplus via Joana

2013-09-23

"Procurei como filósofo compreender o mundo. Estranhamente, sinto que o mundo tem um lado incompreensível. O mundo talvez exista não para ser compreendido, mas para ser amado!"

-- Alfredo Dinis

Dai-lhe Senhor o eterno descanso, entre os esplendores da luz perpétua, que a sua alma descanse em paz.

2013-08-18

Para ser grande

Para ser grande, sê inteiro,
Põe quanto és no mínimo que fazes.
Nada teu exagera ou exclui.
Assim, em cada lago, a lua toda brilha porque alta vive.

Ricardo Reis

2013-08-07

Quanto custou a JMJ Rio

A Prefeitura do Rio divulgou na tarde desta segunda-feira (29/07) um balanço do serviço prestado pelos órgãos municipais durante a Jornada Mundial da Juventude, que aconteceu na cidade de 23 a 28 de julho, com a presença do Papa Francisco, em sua primeira viagem internacional como pontífice.

Mais de três milhões de pessoas participaram da Jornada, que contou com eventos abertos ao público em Copacabana, na Quinta da Boa Vista, na Lapa, e em diversas paróquias. Dados do Ministério do Turismo revelam que dois milhões de turistas estiveram no Rio durante a JMJ, movimentando R$1,2 bilhão na economia da cidade, um recorde de visitação no país, considerando que todos estavam em uma mesma cidade e em um mesmo período. Vindos de 170 países, 93% dos turistas pretendem voltar para conhecer melhor o Rio.

De acordo com números oficiais do Comitê Organizador Local (COL) da JMJ, 355 mil peregrinos de 175 países se inscreveram na Jornada. Desses, 220 mil eram brasileiros, 63% deles moradores da região Sudeste, 16% da região Sul e o restante do Nordeste, Norte e Centro Oeste. Seis mil jornalistas de mais de 70 países cobriram a Jornada.

Impacto econômico e outros índices (Fonte: Ministério do Turismo)

Visitantes desembolsaram R$ 1,2 bilhão;

-- 72,7% dos estrangeiros disseram estar na cidade pela primeira vez e 93% afirmaram que estão dispostos a retornar;

-- 53,6% deles afirmaram que querem voltar ao Brasil em até um ano (12,7% pretendem fazer isso no prazo de um a seis meses);

-- Solteiros (85,6%);

-- Mulheres (52,5%);

-- Hospedados em casa de voluntários (55,6%);

-- Menos de 7% ficaram em hotéis;

-- 57% têm até 25 anos;

-- 7% recorreram a agências de viagens


Entre as atividades realizadas durante a estadia na cidade:

-- 77,7% destacaram os atrativos turísticos;

-- 39,7%, sol e praia;

-- 38,6%, atividades culturais;

-- 28,5%, compras;

-- 9,5%, diversão noturna.

Impacto foi 17 vezes maior que o da Copa das Confederações

Os organizadores da Jornada acreditam que serão gerados cerca de 20 mil empregos formais e informais. A última Jornada Mundial da Juventude, realizada em Madri em 2011, movimentou cerca de R$ 1 bilhão na economia espanhola.

Fontes:
http://www.rio2013.com/pt/noticias/detalhes/3471/jmj-rio2013-injeta-r-1-2-bilhao-na-economia-do-rio-e-aumenta-ocupacao-hoteleira
http://www.rio2013.com/pt/noticias/detalhes/2988/jmj-rio2013-injetara-r-1-2-bilhao-na-economia-estima-ministerio-do-turismo
http://www.rio2013.com/pt/noticias/detalhes/3470/bares-e-restaurantes-de-copacabana-dobram-faturamento-durante-a-jmj-rio2013
http://www.rio2013.com/pt/noticias/detalhes/3439/prefeitura-divulga-balanco-da-jornada-mundial-da-juventude
http://www.rio.rj.gov.br/web/smtr/exibeconteudo?id=4270676
http://oglobo.globo.com/rio/jornada-injeta-18-bi-no-rio-9227722

'Quem paga pela Jornada é o comitê organizador da Igreja Católica', destaca Eduardo Paes
Prefeito do Rio afirma que o governo brasileiro entra apenas com serviços de apoio, como saúde e trânsito
http://radioglobo.globoradio.globo.com/jornada-mundial-da-juventude/2013/07/23/QUEM-PAGA-PELA-JORNADA-E-O-COMITE-ORGANIZADOR-DA-IGREJA-CATOLICA-DESTACA-EDUARDO-PAE.htm
http://tamujuntojmj.cancaonova.com/jmj-vai-movimentar-mais-r-12-bilhao-na-economia-brasileira/


2013-08-05

Ultrapassagens nas auto-estradas?

Artigo 42.o

Pluralidade de vias e trânsito em filas paralelas

Nos casos previstos nos n.os 2 e 3 do artigo 14.o e no artigo 15.o, o facto de os veículos de uma fila circularem mais rapidamente que os de outra não é considerado ultrapassagem para os efeitos previstos neste Código.

2013-07-24

sDq

se Deus quiser

2013-07-22

Sete Anos

O Prof. César das Neves publicou hoje este texto no Diário de Notícias.
O primeiro parágrafo faz-nos lembrar um dia muito especial e muito nosso em 22 de Julho de 2006 :)
O resto não é assim tão simpático, mas é a realidade que temos, e que nos cabe a cada um de nós trabalhar para resolver!

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Sete anos

DN 2013-07-22
JOÃO CÉSAR DAS NEVES

Quem se lembra do Verão de 2006? Portugal foi quarto no campeonato do mundo de futebol; a economia crescia 1,4%, o desemprego era 7,4%. Nasciam mais pessoas do que morriam e os casamentos eram o dobro dos divórcios. Só há sete anos. Como tudo mudou tanto!

Dois factos dominaram este período. O mais visível é económico-financeiro: o país, então já atascado em dívida, caiu de bêbado em 2011 e debate-se na terrível ressaca. A coberto desta veio a segunda evolução, mais decisiva: um devastador assalto à cultura e sociedade portuguesas em nome da liberdade sexual, com extremistas capturando e distorcendo elementos centrais da alma lusitana. A bebedeira financeira cura-se em menos de sete anos, mas a investida lasciva será pavorosa por décadas.

Foi no Verão de 2006 que começou a demolição das leis básicas da identidade nacional que trouxeram Portugal de uma posição mundial equilibrada ao extremo desmiolado na regulamentação familiar. A primeira foi a Lei 32/2006 de 26 de Julho da reprodução artificial. Seguiu-se a liberalização e subsidiação do aborto (Lei 16/2007 de 17/4 e Portaria 741-A/2007 de 21/6), banalização do divórcio (Lei 61/2008 de 31/10), educação sexual laxista (Lei 60/2009 de 6/8), casamento entre pessoas do mesmo sexo (Lei 9/2010 de 31/5), mudança do sexo (Lei n.º 7/2011 de 15/3), entre outras.

Enquanto noutros países estes assuntos criavam profundos e longos debates, por cá deu-se o triunfo súbito do fundamentalismo extremista. Embrulhados em manigâncias capitalistas, os Governos precisavam de fingir progressismo na ideologia familiar. A sociedade assustada adoptou a posição cómoda e irresponsável de tolerar a libertinagem. As forças de defesa da família, em particular a Igreja Católica, suportaram derrota atrás de derrota fragorosa.

Deste modo irresponsável, o país alinhou em poucos anos as suas leis básicas por caprichos de fanáticos, ultrapassando a toda a velocidade os países civilizados, alguns dos quais já em sentido inverso. Portugal tornou-se um paraíso mundial de comportamentos desviantes e perversos. Não admira o colapso do casamento, ausência de fertilidade, envelhecimento galopante, multiplicação de patologias sociais. Em 2011 os casamentos foram só mais 34% que os divórcios e houve menos 6000 nascimentos que óbitos. A geração anterior desequilibrou as finanças em quinze anos; esta desequilibrou-se a si mesma em sete.

A História mostra duas coisas. A primeira é que movimentos súbitos, com tal rapidez e profundidade, nunca param antes do abismo. Com extremistas no controlo da dinâmica, a coisa irá até ao absurdo. Sorveremos a infâmia até à última gota. Todos os dias aumentam aqueles que, tendo começado por defender as novidades, agora se arrependem vendo os resultados. Mas a escalada não abranda, atingindo já os temas de requinte, como a co-adopção por casais do mesmo sexo, que em fases anteriores muitos dos próprios activistas prometiam nunca acontecer. A espiral devoradora exige-o, como exigirá as vergonhas seguintes.

Provando que uma loucura nunca fica a meio, a História ensina ainda que casos destes servem de vacina para a humanidade. Quando a Rússia em 1917 aceitou que extremistas dominassem a sua economia, destruiu para sempre o atractivo intelectual do marxismo. Sem essa experiência, hoje o sistema comunista ainda seria perigoso, o PCP não estaria residual nem esconderia a ditadura do proletariado. O desprestígio das ideologias racistas deve-se também ao facto de a Alemanha ter dado em 1933 o poder a esses radicais, revelando ao mundo o seu horror. As sociedades que se deixam controlar por teses aberrantes destroem-se a si mesmas por várias gerações, mas prestam um serviço à humanidade.

Nos sete anos desde o Verão de 2006 Portugal enveredou por caminhos anarquistas nos campos financeiro e familiar. São já bem claros os efeitos dessas opções, mas ainda não se vê o fim do caminho que, pelo menos no segundo, deve demorar mais de sete anos. Resta-nos o consolo de o futuro vir a aprender com os nossos horrores.

2013-06-19

Desconto de 50% em talão é, no melhor caso, um desconto de 33,3%

A propósito do desconto em talão, o que na REALIDADE significa? Qual o desconto REAL que conseguimos?
Então, tendo em conta dois pressupostos:

1. O consumidor faz duas compras;

2. O desconto é uma percentagem da primeira compra mas só é rebatido (descontado) na segunda compra (e esta já não tem desconto).

O desconto máximo que o consumidor consegue consiste em efectuar uma segunda compra exactamente igual ao valor do desconto obtido na primeira compra.

Então vamos analisar o exemplo que o professor Rogério indica:
- Valor da 1ª compra: 100
- Desconto em talão (para rebater na compra seguinte): 50%, ou seja, 50 euros
- Valor da 2ª compra: 50 euros (nesta compra, o consumidor paga 0 euros).

Em síntese:
- Valor total das compras: 150 euros
- Valor total pago: 100 euros
- Desconto global obtido (relativo às duas compras): 50 euros que, em percentagem corresponde a 50/150, ou seja, 33,33%.

Este é o desconto máximo que o consumidor consegue, efetuando uma segunda compra de valor exatamente igual ao desconto que obteve na primeira. Se o valor da segunda compra for superior ao desconto obtido na primeira, esta percentagem (do desconto global obtido relativo às duas compras) é menor - e será tanto menor quanto maior for o valor da segunda compra). Estes 33,33% são, pois, o desconto máximo que se consegue no cenário indicado.

Ora, isto é exatamente 1 - 1/(1+taxa de desconto), como pode ver se fizer esta conta: 1 - 1/(1+0,50) = 0,3333 (33,33%). Na verdade, resulta no mesmo fazer 1 - 1/(1+taxa de desconto) ou simplesmente taxa de desconto/(1+taxa de desconto). No nosso exemplo, pode ver que 0,50/(1+0,50) resulta logo em 0,3333. Pode experimentar com outros valores e verá que isto é sempre verdade (desde que assumidos os tais dois pressupostos de que falei no início).

Outro exemplo:
- Valor da 1ª compra: 154
- Desconto em talão (para rebater na compra seguinte): 30%, ou seja, 46,20 euros
- Valor da 2ª compra: 46,20 euros (nesta compra, o consumidor paga 0 euros).
Em síntese:
- Valor total das compras: 200,20 euros (154 + 46,20)
- Valor total pago: 154 euros
- Desconto global obtido (relativo às duas compras): 46,20 euros que, em percentagem corresponde a 46,20/200,20, 23,077%. Também pode chegar a este valor de duas maneiras:
- Fazendo 1 - 1/(1+taxa de desconto). Fica 1 - 1/(1+0,30) = 0,23077 ou
- Fazendo taxa de desconto/(1+taxa de desconto): Fica 0,30/(1+0,30) = 0,23077
Se a segunda compra for de valor superior ao desconto obtido na primeira a percentagem de desconto global (relativa às duas compras) diminui.

Os descontos em talão não são tão lineares como parecem? Uma vez que normalmente os preços até estão mais altos do que o normal, e tendo em conta o facto de depois ainda irmos consumir outros igualmente centimos mais caros... pode não compensar!

Podem sempre consultar a Calculadora de Descontos em Talão, que o Pedro Pais disponibiliza no seu blog.

Créditos:
via Miguel Ângelo Rodrigues
Professor Rogério Matias calculofinanceiro.com

2013-05-29

ATSI 7/7 - Conclusões

A metodologia seguida inicia-se com a definição da visão, missão e o ambiente de negócio em que a organização se enquadra. Delinearam-se os elementos fulcrais do negócio com recurso aos modelos das forças competitivas e da cadeia de valor.

Para fazer o levantamento dos processos de negócio, devem ser identificados os vários actores na organização para garantir uma visão completa. O resultado deverá ser uma listagem de processos coerentes com a perspectiva de cada actor e claramente complementares entre si, mas que no seu conjunto são difíceis de integrar numa só visão. Para resolver este problema, os processos devem ser reorganizados segundo o objectivo.

O levantamento das entidades informacionais deve seguir uma metodologia bottom-up. Os itens de informação necessários à execução dos processos devem ser identificados e agregados progressivamente, para formar entidades informacionais compostas por vários itens relacionados.

A identificação das aplicações deve seguir igualmente uma metodologia bottom-up. As aplicações candidatas devem ser propostas indivualmente e com nomes descritivos.

O impacto mais evidente na organização é o colmatar do fosso existente entre a visão de negócio e os sistemas informáticos. Tipicamente, quer a engenharia dos processos de negócio, quer a engenharia do software recorrem a muito detalhe, o que torna impossível a conversão de uma para outra linguagem de representação. A aproximação da Arquitectura de Sistemas de Informação desvaloriza o detalhe em ambos os lados, esbatendo a sua fronteira e criando a visão do conjunto focada no objectivo.

"One of the manifestations of the information processing profession’s youth is its tendency to dwell on detail. There is the notion that if we can get the details right, the end result will somehow take care of itself and we will achieve success. It’s like saying that if we know how to lay concrete, how to drill, and how to install nuts and bolts, we don’t have to worry about the shape or use of the bridge we are building. Such and attitude would drive a more mature civil engineer crazy."
- W.H. Inmon in “Building the Data Warehouse”


As metodologias abordadas para auxiliar a criação da arquitectura de aplicações envolvem os trabalhos de Spewak, Zachman e Inmon nesta área.

Uma das principais dificuldades na realização do levantamento de processos é conseguir uma visão por processos numa estrutura organizacional com divisão funcional (departamentos).

A metodologia de Spewak evidencia uma preocupação com a “forma de trabalho” para a obtenção da Arquitectura da Empresa, de onde se destaca o valor 80/20 como nível de detalhe necessário e suficiente. Além desta regra, conclui-se que ao identificar processos e identidades com algum detalhe é útil responder à pergunta “em que medida é que esse novo elemento identificará a existência de uma nova aplicação ou caracteriza melhor as aplicações existentes?”. Deste modo, pode-se averiguar da verdadeira importância dos processos e entidades levantadas.

Por outro lado, os documentos padrão apresentados por Spewak têm um nível muito elevado de detalhe que parece desalinhado com a regra dos 80/20.

A framework de Zachman, tem o seu principal valor na sua capacidade de identificar tudo o que é importante e decisivo na concepção de uma Arquitectura de Sistemas de Informação. A independência das ferramentas para identificar os elementos de cada célula da matriz (diagramas Entity Relationship, etc.), garantem a flexibilidade na sua aplicação. No entanto, tornam a framework difícil de ser utilizada como uma metodologia de construção da Arquitectura de Sistemas de Informação.

O trabalho de Inmon, é especialmente relevante na caracterização de dados e na cisão entre aplicações com dados operacionais e históricos. O uso das regras de Inmon, permitem caracterizar um dos factores tecnológicos mais importantes da aplicação: a natureza do seu repositório. Este repositório pode ter um de três tipos: repositório partilhado, repositório isolado ou repositório histórico (data warehouse).

2013-05-28

ATSI 6/7 - Arquitectura Tecnológica

A arquitectura tecnológica define os tipos de tecnologia para suportar as aplicações que gerem e acedem à informação da organização. A definição destes ambientes pretende encarar a tecnologia de forma independente dos componentes funcionais e dos dados.

Os princípios tecnológicos propostos são:

Sistemas
  • preferir sistemas abertos que sejam portáveis, escaláveis e que garantam a compatibilidade na interacção com outros sistemas;
  • garantir o suporte ao multi-canal (atendimento directo, telefone, web, dispositivos móveis);
  • definir, aplicar e auditar políticas de segurança respeitantes a todas as vertentes dos sistemas de informação: dados, software e hardware;
Comunicação
  • utilizar protocolos de comunicação que sejam normas internacionais;
  • facilitar o acesso aos sistemas promovendo a mobilidade e garantindo o débito adequado na comunicação;
Software
  • preferir linguagens e ferramentas de programação abertas;
  • utilizar metodologias estruturadas para o desenvolvimento de sistemas;
Dados
  • capturar os dados relevantes apenas uma vez e o mais perto possível da fonte;
  • minimizar a utilização de transacções distribuídas, preferindo manter a informação o mais perto possível do local onde é mais frequentemente utilizada;
  • definir uma política de salvaguarda de dados e de recuperação de desastres adequada à importância de cada aplicação nos processos de negócio.
  • preferir a utilização de bases de dados relacionais, utilizando SQL normalizado para aceder à informação;
  • implementar o acesso a bases de dados numa camada própria;
  • classificar todas as aplicações de acordo com o seu tipo principal de repositório: isolado, partilhado e histórico; e implementá-las no ambiente respectivo;
Interfaces
  • definir, aplicar e auditar regras base comuns para as interfaces utilizador das aplicações, que facilitem a sua posterior integração. As principais características das interfaces deverão ser a simplicidade e a usabilidade;
  • as aplicações deverão ter ou permitir a implementação de interfaces utilizador baseadas em tecnologias Web (HTML, etc.);
  • as aplicações deverão ter ou permitir a implementação de interfaces programáticas baseadas em tecnologias de Web Services (XML, SOAP, etc.);
Sugerem-se os seguintes tipos de repositórios de dados para suportar as aplicações:
  • repositório integrado - para as aplicações que partilham a maior parte dos dados umas com as outras;
  • repositório isolado - para as aplicações cuja maior parte dos seus dados são de consumo próprio e apenas alguns são partilhados com outras aplicações;
  • common data interface - repositório comum de dados onde são publicados os dados dos repositórios isolados que são partilhados (com o objectivo de garantir a independência computacional);
  • repositório histórico (data warehouse) - para as aplicações que acedem a dados históricos apenas em modo de consulta.
O repositório integrado, os repositórios isolados e a common data interface deverão conter apenas dados operacionais. Toda a informação histórica deverá ser colocada no data warehouse. A principal razão para a separação física dos dados históricos dos dados operacionais é o tipo de acesso que se pretende e o tempo de resposta. No caso dos sistemas operacionais, são característicos os acessos frequentes de leitura e escrita a pequenos volumes de dados com tempos de resposta curtos. No caso dos sistemas de exploração de dados, são característicos os acessos a grande volume de dados, dispersos no tempo, de leitura e com tempos de resposta longos.

Em resumo:
Aplicações com repositório integrado - fazem a maior parte do processamento de dados resultantes da actividade.

Aplicações com repositório isolado, com publicação na common data interface - fazem um processamento de dados mais restritos, dispondo de repositórios de dados individualizados.

Aplicações com repositório de dados históricos - acedem ao repositório de dados históricos e executam pesquisas heterogéneas aos dados armazenados. Em regra geral são pesquisas de âmbito estratégico para apoio aos decisores.

A descrição da tecnologia de cada aplicação inclui os seguintes aspectos:
  • Repositório – tipo de repositório da aplicação: integrado, isolado ou histórico;
  • Tecnologia de armazenamento de dados – tipo de armazenamento de dados da aplicação: base de dados relacional ou ficheiros;
  • Decomposição em camadas – arquitectura de camadas da aplicação: uma camada (monolítica), duas camadas (cliente - servidor) ou três camadas (apresentação - negócio - dados);
  • Middleware – tipos de middleware utilizados pela aplicação - plataforma;
  • Hardware – requisitos especiais da aplicação relativamente ao sistema computacional que a vai executar;
  • Ambientes – ambientes necessários para suportar a aplicação durante o seu ciclo de vida (desenvolvimento, testes, pré-produção, produção);
  • Interfaces – interfaces a desenvolver para a aplicação;
  • Backup and disaster recovery – política de salvaguarda periódica de dados da aplicação e política de recuperação de desastres.

2013-05-27

ATSI 5/7 - Arquitectura de aplicações

Um dos principais propósitos da definição da Arquitectura de Sistemas de Informação é resolver os problemas de incoerência e redundância nos dados e aplicações da organização.

A definição da Arquitectura de Processos de Negócio e a Arquitectura de Informação são o primeiro passo nesta definição, para garantir o alinhamento dos processos de negócio com as entidades informacionais.

O segundo passo consiste em utilizar as arquitecturas definidas e alinhadas entre si anteriormente, para conceber a Arquitectura de Sistemas de Informação. Esta concepção deve ter duas preocupações: o alinhamento dos sistemas de informação com os processos de negócio e, simultaneamente, o alinhamento dos sistemas de informação com as entidades informacionais. Assim sendo, assegura-se que os Sistemas de Informação suportam as acções desempenhadas pelos actores nos processos de negócio e que gerem exactamente a informação necessária (nem a mais, nem a menos).

Depois de definidas as aplicações, deve-se assegurar a conformidade futura a nível do alinhamento tecnológico, propondo uma Arquitectura Tecnológica e um Plano de Implementação

A arquitectura de aplicações define e descreve o conjunto de sistemas ideal para uma organização, identificando as inter-dependências existentes. O seu objectivo é identificar os componentes funcionais da arquitectura e assegurar que estes estão alinhados com o negócio e com a estratégia, promovendo a gestão eficaz da informação. Esta definição é independente da tecnologia.

O ponto de partida para esta definição é uma Matriz de CRUD que resume as Arquitecturas de Processos de Negócio e de Informação.

A metodologia para definir a arquitectura de aplicações é a seguinte:
  • Análise da matriz inicial obtida pelo cruzamento dos processos de negócio com as entidades informacionais, identificando as principais concentrações de criação (C) e actualização (U) de entidades;
  • Identificação de aplicações candidatas, com definição do nome e objectivo:
    • partindo directamente da matriz:
      • aplicações orientadas às entidades (colunas da matriz);
      • aplicações orientadas aos processos (linhas da matriz);
    • partindo do conhecimento do problema adquirido durante a definição dos processos de negócio e entidades informacionais;
  • Criação da lista de aplicações eleitas, através da combinação das várias listas de candidatas com eliminação de aplicações repetidas e redundantes;
  • Análise iterativa da matriz para identificação dos aglomerados correspondentes às aplicações. Agrupamento de entidades e processos por afinidade, através de permutas de linhas e colunas. Ajuste das aplicações eleitas;
  • Definição da lista final de aplicações a propor, com descrição completa dos objectivos e das macro funcionalidades.
A descrição de cada aplicação deve incluir os seguintes aspectos;
  • Objectivo – descrição dos problemas que a aplicação pretende resolver;
  • Tipo de Sistema – classificação do tipo de sistema de acordo com o nível da organização em que é utilizado (TPS/KWS/MIS/DSS/ESS - ver abaixo);
  • Macro Funcionalidades – descrição das principais funcionalidades da aplicação, agrupadas em módulos quando necessário;
  • Interfaces de Integração – para permitir a integração com outras aplicações. Pode ser uma interface de programação aplicacional (API) ou uma interface de acesso aos dados;
  • Processos Suportados – lista de processos de negócio suportados pela aplicação;
  • Entidades Geridas – lista de entidades informacionais que são criadas, lidas, actualizadas ou eliminadas pela aplicação (CRUD);
  • Entidades Consultadas – lista de entidades informacionais que são apenas lidas pela aplicação (R).
Os sistemas de informação servem as funções das organizações a diferentes níveis [ver Laudon e Laudon]. As áreas funcionais são tipicamente Vendas e Marketing, Produção, Finanças, Contabilidade e Recursos Humanos; os níveis são: Estratégico, Gestão, Conhecimento e Operacional. Os sistemas de informação são classificados em diferentes tipos, dependendo do nível da organização que assistem:
  • Sistemas de Processamento de Transacções (TPS – Transaction Processing Systems) – sistemas do nível operacional, que registam as transacções diárias necessárias aos processos de negócio;
  • Sistemas de Trabalho de Conhecimento (KWS – Knowledge Work Systems) –sistemas de apoio a trabalhadores especializados em áreas de conhecimento, na criação e integração de novo conhecimento na organização;
  • Sistemas de Informação de Gestão (MIS – Management Information Systems) –sistemas ao nível de gestão utilizados para funções de planeamento, controlo e decisão baseados em relatórios rotineiros de resumo ou excepção;
  • Sistemas de Apoio à Decisão (DSS – Decision Support Systems) – sistemas ao nível de gestão que combinam dados e modelos analíticos ou ferramentas de análise de dados para apoiar as decisões não rotineiras;
  • Sistemas de Apoio Executivo (ESS – Executive Support Systems) – sistemas ao nível estratégico concebidos para auxiliar nas decisões não rotineiras, utilizando técnicas avançadas de comunicação e representação gráfica.

2013-05-24

ATSI 4/7 - Matriz de CRUD

A matriz de CRUD apresenta um cruzamento entre processos de negócio e entidades informacionais, ou seja, permite visualizar que dados são usados (e de que forma) em cada processo de negócio.

A imagem seguinte apresenta um exemplo de uma matriz de CRUD:



Pesquisar mais exemplos

2013-05-23

ATSI 3/7 - Arquitectura de Informação

A arquitectura de informação é a descrição das entidades informacionais necessárias para a realização dos processos de negócio da organização. Esta arquitectura identifica e define a informação fundamental para o negócio de forma independente das aplicações que irão existir, formando a base que vai permitir a gestão correcta da informação.

Sugere-se a seguinte metodologia para a identificação e definição das entidades informacionais:
  • Listagem conjunta de entradas e saídas de um grupo de processos;
  • Agregação dos itens de informação por afinidade;
  • Definição de entidades candidatas, com indicação do respectivo dono;
  • Agregação ou separação de entidades candidatas;
  • Ajuste do nível de detalhe das entidades e seus atributos, tendo em conta o objectivo da modelação;
  • Definição das entidades informacionais;
  • Verificação da coerência global das entidades e da relação entre as entidades e os processos de negócio.
As entidades informacionais são apresentadas da seguinte forma:
  • Código Identificador – EI x, onde x é um número;
  • Nome – descreve a designação da entidade;
  • Dono da Entidade – quem cria a entidade;
  • Gestor da Entidade – quem gere a maior parte do conteúdo da entidade;
  • Descrição – genérica da entidade;
  • Identificador – atributos que permitem identificar uma instância da entidade informacional;
  • Atributos Contidos – descrição dos atributos de informação contidos na entidade. Cada atributo é sumariamente descrito.

Cada atributo das entidades tem, por omissão, grau de derivação: primitivo; dimensão grau de privacidade: pública; dimensão temporal: tempo presente.

2013-05-22

ATSI 2/7 - Arquitectura de Processos de Negócio

A arquitectura dos processos de negócio inclui a definição e a descrição sucinta dos processos de negócio, juntamente com a definição e descrição dos actores neles envolvidos. Os processos de negócio são sequências de actividades que atravessam horizontalmente a organização e consomem recursos, produzindo valor para os clientes. Os actores são papéis desempenhados pelos intervenientes nos processos de negócio.

Capturar as actividades da organização através de uma visão orientada aos processos tem vantagens em relação a uma visão orientada às funções internas da organização. A principal vantagem é partir do ponto de vista dos clientes, identificando situações a melhorar e casos de redundância na gestão da informação. Esta vantagem justifica o maior esforço que é dispendido na modelação para não se perder o contacto com a realidade da organização.

Utilizar actores para fazer o levantamento de processos permite enriquecer a modelação produzida. Os actores do cliente devem definir os principais processos, enquanto que os restantes actores definem os restantes processos de apoio. Apesar disto, em cada processo, todos os actores são considerados igualmente importantes, i.e. não há distinção entre actores principais e secundários.

A vantagem de utilizar o actor como abstracção do utilizador e da unidade organizacional que participa no processo reflecte-se na maior adaptabilidade da modelação a alterações estruturais. Deste modo, a descrição de um processo mantém-se praticamente igual, mesmo que a unidade organizacional que o suporta mudar.

Tendo em conta estes aspectos, sugere-se a seguinte metodologia para construir a arquitectura de processos:
  • Identificação e definição dos actores envolvidos na organização;
  • Levantamento detalhado de processos para cada actor;
  • Combinação das diferentes perspectivas dos actores, utilizando os objectivos dos processos como critério agregador;
  • Ajuste do nível de detalhe, tendo em consideração o objectivo da modelação;
  • Verificação da coerência global entre os processos.
Os processos de negócio devem ser apresentados da seguinte forma:
  • Código Identificador – PN x, onde x é um número;
  • Nome – descreve o objectivo do processo;
  • Actores – envolvidos no processo;
  • Entidades Externas – envolvidas no processo (opcional);
  • Processos Precedentes – processos que têm obrigatoriamente que se realizar antes do processo (opcional);
  • Descrição Sumária – descrição das actividades do processo e da participação dos actores;
  • Entradas – informação consumida pelo processo;
  • Saídas – informação produzida pelo processo.
Quer as entradas, quer as saídas são entidades informacionais, com indicação dos atributos utilizados (quando são um conjunto restrito) e indicação do tipo de acesso CRUD - Create, Read, Update, Delete - Criar, Ler, Actualizar, Apagar. No cruzamento com os processos de negócio, deve referir-se onde é que a disponibilidade, segurança e coerência têm requisitos especiais.

2013-05-21

ATSI 1/7 - Introdução

O objectivo da Arquitectura Tecnológica de Sistemas de Informação (ATSI) de uma organização é definir um conjunto de sistemas de informação, não redundante, adequado à realidade da organização e com flexibilidade suficiente para permitir ajustes à evolução do modelo de negócio.

Para alinhar a arquitectura a propor com a realidade, deve começar-se por analisar a organização e identificar o cliente, definir uma visão e missão. Por outras palavras, é necessário definir o problema antes de propor uma solução.

Pode-se caracterizar o contexto da organização através do modelo das forças competitivas de Michael Porter que dá uma visão de indústria: clientes, fornecedores, novas entradas e produtos substitutos. É também relevante estudar a cadeia de valor que caracteriza as actividades e serviços prestados pela organização identificando as actividades principais e as actividades de suporte.

A definição da Arquitectura de Sistemas de Informação é estruturada, normalmente, em cinco etapas:
  • Arquitectura de Processos de Negócio;
  • Arquitectura de Informação;
  • Arquitectura de Aplicações;
  • Arquitectura Tecnológica;
  • Plano de Implementação.
Os processos de negócio e as entidades informacionais formam a base para considerar as diferentes dimensões do problema. A arquitectura de processos descreve a abordagem seguida no levantamento de processos de negócio, descrevendo a metodologia, actores e entidades externas. A arquitectura de informação descreve a definição das entidades informacionais.

2013-05-20

ATSI - Arquitectura de Sistemas de Informação

Vou publicar uma série de posts com excertos adaptados de um trabalho sobre Arquitectura de Sistemas de Informação que realizei no meu Mestrado com os colegas Inês Barreto, Marta Guerra e Gabriel Pestana.

O objetivo desta série de publicações é apresentar um resumo da disciplina de arquitecturas de sistemas de informação, que permite dar uma ideia de como começar a resolver problemas informáticos complexos em organizações.

As referências do trabalho são as seguintes:

[Fowler99] – Martin Fowler with Kendall Scott, UML Distilled - 2nd edition , Addison-Wesley, 1999

[Inmon93] – W.H. Inmon, Data Architecture - The Information Paradigm - 2nd edition, QED Technical Publishing Group, 1993

[Inmon96] – W.H. Inmon, Building the Data Warehouse - 2nd edition, John Wiley & Sons, 1996

[InmonZachmanGeiger97] – W.H. Inmon, John A. Zachman, Jonathan Geiger, Data Stores Data Warehousing and the Zachman Framework - Managing Enterprise Knowledge, McGraw Hill, 1997

[Laudon02] – Kenneth C. Laudon, Jane P. Laudon, Management Information Systems – 7th Edition, Prentice Hall, 2002

[Spewak93] – Steven Spewak, Steven Hill, Enterprise Architecture Planning, John Wiley & Sons, 1993

[ZIFA03] – Zachman Institute for Framework Advancement Website, 2003


2013-05-04

Papa Francisco sobre as Mães

Para inspirar as mães...

Palavras do Papa Francisco
no final da recitação do Santo Rosário
na Basílica de Santa Maria Maior
4 de maio de 2013

Uma mãe ajuda os filhos a crescer e deseja que cresçam bem; por isso, educa-os a não cederem à preguiça — que deriva inclusive de um certo bem-estar — a não se abandonar a uma vida confortável, que se contenta simplesmente com os objectos. A mãe cuida dos filhos para que cresçam cada vez mais, cresçam fortes e se tornem capazes de assumir responsabilidades, de se comprometer na vida e de propender para grandes ideais.
(...)

Além disso, uma mãe pensa na saúde dos filhos, educando-os também para enfrentar as dificuldades da vida. Não se educa, não se cuida da saúde evitando os problemas, como se a vida fosse uma auto-estrada sem obstáculos. A mãe ajuda os filhos a ver com realismo os problemas da vida e a não se perder neles, mas a enfrentá-los com coragem, a não ser frágeis e a sabê-los superar, num equilíbrio sadio que uma mãe «sente» entre os âmbitos de segurança e as áreas de risco. E uma mãe sabe fazer isto! Não leva sempre o filho pelo caminho da segurança, porque desta forma o filho não pode crescer, mas também não o deixa unicamente na vereda do risco, porque é perigoso. Uma mãe sabe equilibrar as coisas. Uma vida sem desafios não existe, e um jovem ou uma jovem que não sabe enfrentá-los, pondo-se em jogo, é um jovem e uma jovem sem espinha dorsal!
(...)

Um último aspecto: uma boa mãe não só acompanha os filhos no crescimento, sem evitar os problemas e os desafios da vida; uma boa mãe ajuda também a tomar as decisões definitivas com liberdade. Isto não é fácil, mas uma mãe sabe fazê-lo. Mas o que significa liberdade? Sem dúvida, não é fazer tudo o que queremos, deixar-nos dominar pelas paixões, passar de uma experiência para outra sem discernimento, seguir as modas do tempo; liberdade não significa, por assim dizer, lançar da janela tudo o que não nos agrada. Não, a liberdade não é isto! A liberdade é-nos concedida para que saibamos fazer escolhas boas na vida! Como boa mãe, Maria educa-nos para sermos como Ela, capazes de fazer escolhas definitivas; escolhas definitivas, neste momento em que reina, por assim dizer, a filosofia do provisório. É muito difícil comprometer-se na vida de maneira definitiva. E Ela ajuda-nos a fazer escolhas definitivas com aquela liberdade integral e com a qual Ela mesma respondeu «sim» ao plano de Deus sobre a sua vida.

http://www.vatican.va/holy_father/francesco/speeches/2013/may/documents/papa-francesco_20130504_santo-rosario_po.html

2013-04-03

Quantos pares?

Existem diversos jogos de memória que consistem em ter pares de cartas idênticas , viradas de costas.
Depois, vão-se virando duas de cada vez, e cada jogador deve-se ir lembrando de onde está o par.
Se emparelhar, joga outra vez!

Exemplo

A progressão esperada com a idade do jogador é a seguinte:

Para 2 anos: 9 pares

Para 3 anos: 12 pares

Para 4 anos: 36 pares

Aviso desde já que os "baixinhos" são muito bons neste tipo de jogo, porque têm memória fresca! :)

2013-04-01

Chocolate Quente

Um grupo de jovens licenciados, todos bem sucedidos nas carreiras, decidiu fazer uma visita a um velho professor, agora reformado.

Durante a visita, a conversa dos jovens alongou-se em lamentos sobre o imenso stress que tinha tomado conta das suas vidas e do seu trabalho. O professor não fez qualquer comentário sobre isso e perguntou se gostariam de tomar uma chávena de chocolate quente. Todos se mostraram interessados e o professor dirigiu-se à cozinha, de onde regressou vários minutos depois com uma grande chaleira e uma grande quantidade de chávenas, todas diferentes - de fina porcelana e de rústico barro, de simples vidro e de cristal, umas com aspecto vulgar e outras caríssimas. Apenas disse aos jovens para se servirem à vontade. Quando já todos tinham uma chávena de chocolate quente na mão, disse-lhes:

- Reparem como todos procuraram escolher as chávenas mais bonitas e dispendiosas, deixando ficar as mais vulgares e baratas... Embora seja normal que cada um pretenda para si o melhor, é isso a origem dos vossos problemas e stress. A chávena por onde estais a beber não acrescenta nada à qualidade do chocolate quente. Na maioria dos casos é apenas uma chávena mais requintada e algumas nem deixam ver o que estais a beber. O que vós realmente queríeis era o chocolate quente, não a chávena; mas fostes conscientemente para as chávenas melhores...

Enquanto todos confirmavam, mais ou menos embaraçados, a observação do professor, este continuou:

- Considerai agora o seguinte: a vida é o chocolate quente; o dinheiro e a posição social são as chávenas. Estas são apenas meios de conter e servir a vida. A chávena que cada um possui não define nem altera a qualidade da vossa vida. Por vezes, ao concentrarmo-nos apenas na chávena acabamos por nem apreciar o chocolate quente que Deus nos ofereceu. As pessoas mais felizes nem sempre têm o melhor de tudo, apenas sabem aproveitar ao máximo tudo o que têm. Vivei com simplicidade. Amai generosamente. Ajudai-vos uns aos outros com empenho. Falai com gentileza...

..... e apreciai o vosso chocolate quente.

(autor desc.)
via Joana via Elisabete

2013-03-13

Habemus Papam!


Papa Francisco

2013-01-11

Os Ninhos

Os passarinhos
Tão engraçados,
Fazem os ninhos
Com mil cuidados.
São p'ra os filhinhos
Que estão p'ra ter
Que os passarinhos
Os vão fazer.

Nos bicos trazem
Coisas pequenas,
E os ninhos fazem
De musgo e penas.
Depois, lá têm
Os seus meninos,
Tão pequeninos
Ao pé da mãe.

Nunca se faça
Mal a um ninho,
À linda graça
De um passarinho!
Que nos lembremos
Sempre também
Do pai que temos,
Da nossa mãe!

(Afonso Lopes Vieira)